Alô, Agefis!!!

Irmão de Rollemberg possui haras em região destinada apenas a pequenos agricultores.

O advogado Carlos Augusto Rollemberg também desviou o curso d’água de um córrego que desemboca no Lago Paranoá para piscina na qual se refresca em dias de calor

Para o advogado Carlos Augusto Sobral Rollemberg, irmão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), “relevante interesse ecológico” é ter um haras e desviar, para uma piscina particular, nascente que desemboca no Lago Paranoá. Mesmo que isso ameace a Área de Preservação Permanente (APP) entre o Park Way, Riacho Fundo e o Gama.

A propriedade de Carlos Augusto Rollemberg está situada numa reserva de 1.143,82 hectares, denominada Área de Revelante Interesse Ecológico (Arie) Granja do Ipê, com outras 23 chácaras. A região rural foi criada por um decreto do então governador José Aparecido de Oliveira, de 23 de outubro de 1987 (veja fac-simile abaixo).

Uma das exigências para ter a posse da terra é que os concessionários comprovem a condição de agricultor. Eles também são obrigados a manter presença constante e a exploração agropecuária desenvolvida no imóvel rural.

Laudo do Ibram

Mas nada disso é cumprido pelo irmão do governador. Carlos Augusto não planta nada na propriedade de 7,6 hectares. Tampouco preserva o ecossistema. Desde quando comprou a terra de um antigo concessionário, vem promovendo mudanças. Muitas das quais descaracterizaram a vegetação nativa.

As irregularidades foram constatadas em um laudo produzido por técnicos do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O relatório apontou que, nos fundos da propriedade, Carlos Augusto fez uma barragem de cimento pouco depois de uma das nascentes do Córrego Ipê Coqueiros, impedindo o curso da água, que chegaria ao Lago Paranoá. Outras propriedades vizinhas também estão sendo investigadas pelo órgão ambiental.

A água represada forma uma grande piscina de águas naturais. A equipe do Metrópoles esteve no local e conversou com os vizinhos. Segundo eles, o proprietário da Chácara 47, no caso Carlos Augusto Rollemberg, costuma tomar banho com a água da nascente. O advogado é acusado pelos outros moradores da região de fazer a limpeza do poço com produtos químicos, que acabam chegando ao córrego e contaminando a água. “O cimento impede que se crie lodo”, explicou um morador.

Alguns metros depois, outra suspeita de crime ambiental. Utilizando a água da mesma nascente, Carlos Augusto instalou canos e fez uma bica, onde também se refresca em épocas de calor rigoroso, como a que durou até a semana passada, que atingiu temperaturas acima dos 36ºC.

Criação de cavalos

Apesar de ser um defensor da lei, o advogado Carlos Augusto Rollemberg demonstra ignorá-la quando é para se beneficiar. Ele mantém um haras na propriedade onde deveria haver hortaliças ou outros tipos de plantação. Para abrigar os animais, tirou a vegetação nativa e plantou grama. Além disso, fez uma estrada para treinar os animais.

De acordo com o inciso VI do artigo 12º da Instrução Normativa 164, de 19 deagosto de 2013, que estabelece os critérios de ocupação da região, é permitida a permanência de animais domésticos nas chácaras, desde que eles fiquem restritos ao perímetro da propriedade e a uma distância de, no mínimo, 30 metros das nascentes. Mas os cavalos existentes no haras também usam uma das piscinas compostas das águas do Córrego Ipê Coqueiros.

Os técnicos do Ibram também relataram o uso de parte do terreno da Chácara 48 — que fica ao lado do haras de Carlos Augusto — para pasto dos cavalos do irmão de Rodrigo Rollemberg. Na aferição da metragem da propriedade, os fiscais constataram que o advogado possui 10 hectares. O puxadinho seria responsável pela diferença entre o tamanho da propriedade (7,6 hectares) e os 10 hectares que possui hoje. A venda da fração deveria ser informada ao órgão.

Levantamento

Em 1997, o então governador Joaquim Roriz concedeu os 1.143,82 hectares da Arie Granja do Ipê à Superintendência de Patrimônio da União (SPU). No ano passado, o órgão pediu ao Ibram um levantamento sobre as atividades permitidas em cada chácara.

Desde então, técnicos do instituto fazem levantamento nas propriedades da região. O último foi realizado no início do ano. No relatório, os especialistas apontam as irregularidades cometidas pelo irmão do governador. Porém, o Ibram não se posicionou até o momento.

Desde a quinta-feira (29/10), o Metrópoles tem procurado insistentemente o advogado Carlos Augusto Rollemberg. Foram deixados recados com o caseiro dele, identificado apenas como Osmar, e com a secretária do escritório de advocacia localizado na QL 8 do Lago Sul. No entanto, ele não retornou as ligações até a publicação desta reportagem.

Ary Filgueira/METROPOLES.COM

Fotos: Daniel Ferreira

solnascentehoje.blogspot.com