segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sol Nascente - Projeto Social Casa da Marieta.

Crianças carentes levam dez medalhas de ouro no Campeonato Brasiliense.
Projeto que visa afastar crianças da violência no condomínio Casa Branca, em Ceilândia, leva 10 alunos a participarem do Campeonato Brasiliense da modalidade e todos saem com a medalha de ouro.


O projeto Casa da Marieta abriga 40 alunos de jiu-jítsu e eles se revezam no uso dos quimonos que a entidade possui. Isabela, Wesley e Lael ganharam uniformes no campeonato.

Quando eles falam onde moram, as pessoas imaginam uma rua asfaltada, com belas casas e árvores ao redor. Mas não se engane. No condomínio Casa Branca, a realidade é outra. Barracos, terra batida, buracos na pista... É nesse cenário, dentro do Sol Nascente, em Ceilândia, onde moram as crianças do projeto social Casa da Marieta. A pequena sala da sede, cujas portas ficam sempre abertas, abriga o tatame no qual 40 alunos aprendem os golpes do jiu-jítsu. Dez deles foram selecionados para participar pela primeira vez do Campeonato Brasiliense da modalidade, neste fim de semana, e todos conseguiram a medalha de ouro em sua categoria.

Antes de subirem ao tatame, ontem, eles já tinham motivos para comemorar: receberam quimonos de presente da Federação Brasiliense da modalidade. “Foi muito bom, porque só tínhamos dois no tamanho deles. Sem os novos uniformes, eles teriam que revezar”, diz a sensei Jane Medeiros, voluntária do projeto. Após o resultado, porém, os pequenos lutadores não têm novas lutas oficiais marcadas. “Dependemos de convite, porque não temos dinheiro para pagar inscrições”, completa a professora.

Incentivo
A oportunidade surgiu com o projeto da Federação, que bancou a inscrição de 200 crianças carentes na competição, de diversos projetos sociais. Todas elas ganharam quimonos. O que parece uma pequena iniciativa é, na verdade, bem importante para os iniciantes. Sem condições de comprar o próprio uniforme, os alunos da Casa da Marieta dividem as 10 roupas conseguidas por meio de doação.

“Funciona assim: um luta, tira o quimono e passa para o próximo”, relata Jane Medeiros. Os novos também irão direto para o uso de todos os alunos do projeto. “Vai ajudar bastante. A roupa parece um detalhe, mas não dá para lutar sem ela”, completa.

Essa foi a segunda competição oficial enfrentada pelas crianças, ainda encantadas com a ideia de ganhar medalhas. A primeira foi há duas semanas, quando competiram no Sesc de Ceilândia. O resultado foi positivo: os nove que foram para o desafio voltaram com medalhas. O orgulho é evidente no olhar de Lael Ramos, de 8 anos. “Fiquei muito nervoso na hora. Faltou ar, precisei tomar uma água e depois melhorei. Eu achei que ia perder”, diz, envergonhado, tentando conter a alegria da vitória.

Também teve comemoração na casa de Isabela e Wesley Souza Barbosa. Os irmãos de 13 e 10 anos, respectivamente, ficaram empolgados com o título e já pensam em seguir carreira no esporte. “Eu quero ser lutadora. Viajar muito e ganhar medalha para o Brasil”, diz a garota, fã de Anderson Silva.

Mais que medalhas
Ainda é cedo para dizer se serão ou não atletas profissionais. Mas não há dúvidas sobre o benefício da atividade na construção do caráter dessas crianças. Eles têm fixado na mente os ensinamentos do esporte. “A gente aprende que é preciso fazer as coisas do jeito certo. A gente luta aqui dentro, mas lá fora temos que manter a calma. Não podemos sair brigando”, diz Wesley. “O jiu-jítsu ensina que temos que ter educação aqui e lá fora, na rua”, complementa a irmã.

O modelo de conduta que buscam é todo baseado na sensei Jane Medeiros. A professora, graduada também em karatê, buscou no projeto a possibilidade de repassar o conhecimento adquirido no tatame. Quando não está trabalhando na lanchonete no centro de Ceilândia, ela está com as crianças. “Eu morava em Ceilândia Sul e me mudei para cá para ficar mais perto deles. Quando não estamos no projeto, eles ficam lá em casa, a gente conversa muito, tento ensiná-los a ficar longe da violência, apesar de viver no meio dela”, explica Jane.

“Eles convivem o tempo inteiro com o crime, com as drogas. Eu mostro que eles podem ser diferentes e ter um futuro melhor”, explica a mentora, ao relatar que nesta semana um aluno entregou a ela uma “trouxinha” de maconha e disse que não queria mais se envolver com drogas.

Jéssica Raphaela - Correio Braziliense

solnascentehoje.blogspot.com

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